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Síndrome da fragilidade e os idosos no Brasil

FRAILTY é um termo em inglês (em tradução literal para português: fragilidade, usado para designar populações idosas que apresentam estado clínico em que há uma vulnerabilidade do indivíduo em desenvolver maior dependência e/ou mortalidade quando exposto a um agente estressor 1.


Visto que a Frailty é a combinação de múltiplas síndromes geriátricas, um termo mais abrangente é usado: a SÍNDROME DA FRAGILIDADE ( do inglês Frailty Syndrome ), que descreve as pessoas mais velhas que apresentam maior risco de resultados adversos à saúde, como doenças, hospitalizações, incapacidade e mortalidade 2,3 .


Clinicamente, e historicamente SÍNDROME DA FRAGILIDADE (SF) é diagnosticada na combinação de sintomas específicos de fragilidade física, qual é definida usando um índice de fragilidade ou uma combinação de cinco fatores: fraqueza geral, diminuição da resistência, perda de peso, diminuição da realização de atividades e marcha instável que leva a quedas. No entanto, a fragilidade vem emergindo como um conceito multidimensional, onde a função cognitiva e fatores psicossociais são extremamente relevantes . Da mesma forma, as intervenções devem ser multiprofissionais para que sejam destinadas a fatores causais e assim poder ajudar a prevenir a conversão da fragilidade em incapacidade 2,3,4.

As medidas atuais de manejo estão relacionadas à promoção da atividade física, incluindo treinamento de resistência, modificações nutricionais clínicas na ingestão de proteínas/aminoácidos e uso de agentes farmacológicos - inibidores da ECA, e até o uso de hormônios GH/testosterona em pacientes cuidadosamente investigados e selecionados. Grandes intervenções de saúde e ensaios farmacológicos estão em andamento 3,4.


A fragilidade dos pacientes está se tornando ainda mais aparente à medida que a geração dos Baby Boomers (em tradução livre "Explosão de Bebês" é uma definição genérica para crianças nascidas durante uma explosão demográfica que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial 1943 a 1960 - em países do hemisfério norte) dos Estados Unidos envelhece. Projeta-se que, até 2030 nos Estados Unidos (EUA), haverá 61 milhões de pessoas em idade 66-84 e 9 milhões de pessoas com mais de 84 anos, colocando uma grande parte da população em estado de fragilidade 5.


Evidências recentes apontam a relação entre fragilidade e aumento da morbidade e mortalidade, e ferramentas apropriadas de avaliação que quantificam de forma otimizada a fragilidade no tanto no manejo do quadro clínico e quanto na estratificação de riscos perioperatórios são necessárias . Para isso, diversas escalas foram desenvolvidas tais como The FRAIL Scale, Cardiovascular Health Study Frailty Screening Measure (CHS), Clinical Frailty Scale, Groningen Frailty Indicator (GFI), Tilburg Frail Indicator (TFI), and Edmonton Frailty Scale (EFS) 5 .

Dasgupta M. et al, 2009 demonstrou o valor clínico das avaliações de fragilidade, mostrando correlação positiva entre maiores pontuações EFS em pacientes cirúrgicos com mais de 70 anos e maior tempo de permanência hospitalar, menor probabilidade de alta e mais complicações pós-operatórias 6 .


No entanto, aqui no Brasil , o conceito de SF ainda é pouco conhecido pela grande maioria dos profissionais da saúde . Na prática clínica - tanto em pacientes hospitalizados quanto em pacientes ambulatoriais (clínicas & consultórios) - a investigação da SF em pacientes idosos é ainda escassa, bem como uso das escalas de avaliações que podem direcionar a abordagem multiprofissional nesta população, que deve ser diferenciada.

Contudo, é fundamental adquirirmos um olhar diferenciado para a população idosa, visto a importante alteração demográfica que o Brasil atravessa.


O Instituto Brasileiro de Geografia & Estatística - IBGE , registrou no ano de 2010, 2.917.391 pessoas com idade superior a 80 anos, sendo 319.959 pessoas com idade entre 90 e 94 anos. Em 2060 haverá, também segundo o IBGE, 5 milhões de brasileiros com mais de 90 anos 7 . O IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada , recentemente mostrou que cerca de 4,5 milhões de idosos terão dificuldades para as atividades da vida diária nos próximos 10 anos, um acréscimo de 1,3 milhão ao contingente observado em 2008. Desses, 62,7% devem ser do sexo feminino 8 . Ou seja, a população idosa com SF também aumentará.


O envelhecimento da nossa população deve fazer com que a sociedade e as diversas áreas da saúde estejam mais unidas para que o diagnóstico adequado e, portanto , atitudes apropriadas sejam tomadas no tempo certo no atendimento a essa população. Parafraseando a jornalista Míram Leitão em sua recente publicação 9 questiono : como será a vida e o tratamento da saúde dos idosos nas próximas décadas onde teremos muito mais brasileiros chegando aos 80,90 anos ? Essa é uma questão fundamental que cruza demografia e saúde, e que faz ser urgente haver expertise de excelência dos profissionais (dos ambulatórios até os hospitais) para uma abordagem mais extenso e adaptada que possa incluir a família e/ou núcleo de cuidadores no tratamento & prevenção da SF.

Referências:

  1. Morley JE, Vellas B, Abellan KG, Anker SD, Bauer JM, Bernabei R, et al. Frailty consensus: a call to action. J Am Med Dir Assoc (2013) 14:6

  2. Yeolekar ME, Sukumaran S. Frailty Syndrome: A Review. J Assoc Physicians India. 2014 Nov;62(11):34-8.

  3. Chen LK, Hwang AC, Liu LK, Lee WJ, Peng LN. Frailty Is a Geriatric Syndrome Characterized by Multiple Impairments: A Comprehensive Approach Is Needed. J Frailty Aging. 2016;5(4):208-213.

  4. Revenig LM, Master VA, Ogan K, Sweeney JF, Sarmiento JM, Kooby DA, et al. Report of a simplified frailty score predictive of short-term postoperative morbidity and mortality. J Am Coll Surg (2015) 220(5):904.

  5. Stoicea N, Baddigam R, Wajahn J, Sipes AC, Arias-Morales CE, Gastaldo N,Bergese SD. The Gap Between Clinical Research and Standard of Care: A Review of Frailty Assessment Scales in Perioperative Surgical Settings. Front Public Health. 2016 Jul 21;4:150.

  6. Dasgupta M, Rolfson DB, Stolee P, Borrie MJ, Speechley M. Frailty is associated with postoperative complications in older adults with medical problems. Arch Gerontol Geriatr (2009) 48(1):78–83.

  7. Relações entre as Alterações Históricas na Dinâmica Demográfica Brasileira e os Impactos Decorrentes do Processo de Envelhecimento da População – Instituto Brasileiro de Geografia & Estatística - http://www.ibge.gov.br

  8. Camarano, Ana Amélia. Cuidados de longa duração para a população idosa: um novo risco social a ser assumido? - 2010. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada URL: http://www.ipea.gov.br Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria

  9. Míriam, Leitão. História do Futuro - o Horizonte do Brasil No Século XXI. Editora Intrínseca. Rio de Janeiro. 1ª edição. 2015.

Texto desenvolvido pela Dra. Patrícia Fotestieri

Mestre em Cardiologia – Unifesp

Especialista em Cardiologia – Unifesp

Especialista em Neurologia - Unifesp

Fisioterapeuta do Hospital São Paulo – UTI Cirurgia Cardiovascular

Docente e Preceptora de Estágiodo Curso de Especialização em Fisioterapia Intensiva – Fabic

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